quinta-feira, 23 de abril de 2009

Mais uma vez...o meu 25 de Abril de 1974


Gostei muito do dia 25 de Abril de 1974.
Nesse dia a escola foi só um bocadinho e eu fartei-me de brincar.
A minha avó foi buscar-me mas parecia preocupada.
Estava ansiosa que os meus pais chegassem a casa.
Achei que ainda era cedo mas não disse nada.

Na televisão viam-se muitos soldados mas não havia guerra.
O meu pai foi o primeiro a chegar e vinha muito contente. Fingi que não o tinha visto a chorar pois tive medo que ficasse envergonhado.
Sentou-me ao colo dele e ficámos a ver os soldados sem guerra na televisão.


A minha mãe chegou mais tarde.
Também ela vinha muito contente e trazia na mão um molho de flores vermelhas, que eu não me lembro de ter visto antes, mas que disse chamarem-se cravos.
Os meus pais abraçaram-se e choraram, mas não estavam tristes.
A minha mãe falava muito e contava o que tinha visto.
Acho que era sobre aqueles soldados sem guerra, num sítio qualquer chamado Carmo.
Não percebi nada e achei que, naquele dia, os adultos todos se comportaram de uma forma muito estranha.

A minha mãe trouxe-me cerejas dentro de um pacote de papel castanho com risquinhas vermelhas, que eu comi em frente à televisão.
Eu adoro cerejas.
Fomos muitas vezes à varanda da nossa casa, com vista para a Avenida Alfredo da Silva, para vermos as pessoas que passavam na rua.
Eram cada vez mais e estavam tão felizes como eu quando como cerejas.
Nunca tinha visto tantas pessoas felizes juntas.

Também ouve outra coisa que gostei.
O meu pai pediu-me ajuda para fazer um "V" com as flores vermelhas que a minha mãe tinha trazido, os cravos.
Pendurámos o "V" na varanda para que todas as pessoas pudessem ver.
Ficou muito bonito. O meu pai disse que era um "V" de vitória.
Mais uma vez não percebi nada mas não quis estragar a festa com a minha ignorância.

Gostei muito do dia 25 de Abril de 1974.
Mas o que mais gostei foi das cerejas e das flores vermelhas, os cravos...

Ana Gomes da Silva - Abril de 2008

8 comentários:

Anónimo disse...

Limpo e doce, como as cerejas.
Gostei muito.

Manuela

Anónimo disse...

Já tinha lido este texto quando foi publicado pela primeira vez há um ano e já na altura achei fantástico.

Um bom 25 de Abril.

Cumprimentos

Pedro Santiago

Ana Gomes da Silva - Capikua disse...

Caros Manuela e Pedro

Agradeço a vossa visita e os comentários que tiveram a amabilidade de me dirigir.

Desejo aos dois um feliz 25 de Abril.

Festejar a liberdade é absolutamente imprescindivel nos corações que batem à esquerda.

Viva o 25 de Abril!

Ana Gomes da Silva

São disse...

Viva, linda!
Pois, o meu não foi tão agradável, não: quase que fui parteira voluntária à força, rrss

Bom fim de semana para vós.

Ana Gomes da Silva - Capikua disse...

Olá Querida Amiga,

Conheço a história do seu 25 de Abril, que aliás se encontra aqui publicada.
Senti a sua falta...
Um grande beijinho,

Ana

Ana Gomes da Silva - Capikua disse...

Caro Anónimo,

Recebi o seu comentário que continha o link de um jornal local remetendo para um comunicado oficial dos órgãos do PS Barreiro, relativo aos candidatos às próximas eleições autárquicas.

Não percebi muito bem qual a sua intenção...mas seguramente que não me conhece.
Explico melhor...
Se o intuito era informar-me, agradeço mas era dispensável.
Se o intuito era estimular neste espaço essa discussão, mais uma vez não terá sucesso...

Aqui não se discutem as decisões tomadas nos orgãos internos do meu partido, nem tão pouco delas se fazem notícia.
Essa discussão ocorreu no passado sábado em sede própria.


Cumprimentos
Ana Gomes da Silva

Anastasia Belo disse...

A Senhora, claramente não tem idade para entender a dimensão do descalabro que foi o 25 de Abril para Portugal. Acredite que sou democrata e que abominei o fascismo nos 20 anos em que vive com ele... mas esta revolução de magalas não deu flor que se cheire...

São disse...

Desistimos?! Espero bem que não!
Abraços em duplicado.