Para mim, 25 de Abril de 1974 foi, em simultâneo, um dia feliz e desagradável.
Eu desempenhava as minhas funções profissionais no Centro Social Médico-Educativo Nº1, no Alfeite. Nesse dia cheguei cerca das sete horas da manhã e, inesperadamente, fui confrontada com a proibição de entrar nas instalações. Aliás, como todo o pessoal civil.
Desconheço se a Base Naval do Alfeite sabia o que se estava a passar e se alinhava ou não no golpe militar.
Sei é isto:eu não tinha a mínima ideia de que em Lisboa havia militares na rua.
Entretanto, como fora de boleia, já não tinha transporte para regressar a casa.Valeu-me a solidariedade de uma colega que me acolheu em sua casa, a poucos metros do Portão Verde (por aqui entrava o pessoal da Base, onde - talvez estranhamente - nunca cheguei a ir!).
Começou assim um dia muito longo e enervante, ouvindo as notícias do então Rádio Clube Português e sem hipótese de ligações rápidas e precisas com quem quer que fosse, pois telemóveis e afins ainda não tinham feito a sua aparição.
Ainda tenho nos olhos os aviões a sobrevoar a zona e os tanques a passarem, sem nós sabermos muito bem qual seria o desfecho. A incerteza era aumentada pelo facto de a saída de tropas das Caldas da Raínha, pouco tempo antes, ter fracassado rotundamente.
Para complicar ainda mais a situação , a minha colega estava em fim da segunda gravidez e o filho mais velho , naturalmente excitado com todo o alvoroço e talvez contagiado pelo nosso próprio nervosismo, parecia ter entrado em ebulição, sem intervalar disparates atrás de disparates.
A certa altura, a mãe perdeu por completo a paciência e deu-lhes umas valentes palmadas.
Eu só pensava que, no meio de todo aquele desatino, ainda teria que servir de parteira, coisa assustadora ainda hoje.
Quando, por fim, regressei a casa , tive , então, a imensa alegria de saber do golpe efectuado pelos capitâes do Movimento das Forças Armadas e do fim da ditadura que nos esmagou durante décadas.
Aqui rendo homenagem , na pessoa de Salgueiro Maia, a todos os militares que derrubaram um regime vergonhoso que, além do mais, mantinha uma guerra colonial sem sentido.
Quero prestar também a todas as pessoas que se opuseram a Salazar e Caetano, algumas perdendo mesmo a vida nessa luta.
Lamentavelmente, a Democracia tem permitido muitos abusos e está manchada pela corrupção.
Mas, apesar dos pesares, é infinitamente melhor do que a Ditadura!
ABRIL, SEMPRE!!
3 comentários:
Muito grata, minha amiga!!
Espero que seja interessante para as pessoas lerem um testemunho na primeira pessoa acerca cesse dia importantíssimo para a nossa História!
ABRIL, SEMPRE!!
Muitos beijinhos!
Naturalmente, sou eu que agradeço...
Beijinhos para quem é uma flor...(lol)
Ana
Querida São!
Como sempre os teus testemunhos têm um valor enorme, mas este, pelo simbolismo que tem é para mim especial!
Sei que privaste com o grande Zeca Afonso, com a modéstia que te caracteriza raras vezes o escreves, mas creio que não te importarás que hoje e aqui todos o saibam!
Aquele Beijo
Carlos DUarte
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