
Feliz ano de 2009!
Um abraço,
Ana Gomes da Silva
Substantivo feminino, conjunto de algarismos ou de letras cuja leitura é a mesma quando feita nos dois sentidos...
Tenho acompanhado de perto toda a problemática que envolve os professores e o Ministério da Educação.
Naturalmente que tenho opinião sobre a matéria, mas de momento, não é essa a razão deste meu "post".
Queria apenas partilhar e deixar para reflexão uma conversa a que assisti durante esta semana, entre uma avó e o seu neto de 6 anos.
Estando a avó tranquilamente a beber o seu café, eis que chega o neto esbaforido da brincadeira.
Pergunta-lhe então a avó: "Então João, estás pronto a ir para a escola?", "Escola?", respondeu o João.
"Sim, escola", retorquiu a avó com um ar meio confuso.
"Mas avó, eu hoje não vou à escola! Hoje vou fazer como ontem, vou ficar a brincar com os meus amigos, ou não sabes que hoje é dia da greve dos alunos?".
O João tem 6 anos e frequenta o primeiro ano do Ensino Básico.
Ana Gomes da Silva
Para mim, 25 de Abril de 1974 foi, em simultâneo, um dia feliz e desagradável.
Eu desempenhava as minhas funções profissionais no Centro Social Médico-Educativo Nº1, no Alfeite. Nesse dia cheguei cerca das sete horas da manhã e, inesperadamente, fui confrontada com a proibição de entrar nas instalações. Aliás, como todo o pessoal civil.
Desconheço se a Base Naval do Alfeite sabia o que se estava a passar e se alinhava ou não no golpe militar.
Sei é isto:eu não tinha a mínima ideia de que em Lisboa havia militares na rua.
Entretanto, como fora de boleia, já não tinha transporte para regressar a casa.Valeu-me a solidariedade de uma colega que me acolheu em sua casa, a poucos metros do Portão Verde (por aqui entrava o pessoal da Base, onde - talvez estranhamente - nunca cheguei a ir!).
Começou assim um dia muito longo e enervante, ouvindo as notícias do então Rádio Clube Português e sem hipótese de ligações rápidas e precisas com quem quer que fosse, pois telemóveis e afins ainda não tinham feito a sua aparição.
Ainda tenho nos olhos os aviões a sobrevoar a zona e os tanques a passarem, sem nós sabermos muito bem qual seria o desfecho. A incerteza era aumentada pelo facto de a saída de tropas das Caldas da Raínha, pouco tempo antes, ter fracassado rotundamente.
Para complicar ainda mais a situação , a minha colega estava em fim da segunda gravidez e o filho mais velho , naturalmente excitado com todo o alvoroço e talvez contagiado pelo nosso próprio nervosismo, parecia ter entrado em ebulição, sem intervalar disparates atrás de disparates.
A certa altura, a mãe perdeu por completo a paciência e deu-lhes umas valentes palmadas.
Eu só pensava que, no meio de todo aquele desatino, ainda teria que servir de parteira, coisa assustadora ainda hoje.
Quando, por fim, regressei a casa , tive , então, a imensa alegria de saber do golpe efectuado pelos capitâes do Movimento das Forças Armadas e do fim da ditadura que nos esmagou durante décadas.
Aqui rendo homenagem , na pessoa de Salgueiro Maia, a todos os militares que derrubaram um regime vergonhoso que, além do mais, mantinha uma guerra colonial sem sentido.
Quero prestar também a todas as pessoas que se opuseram a Salazar e Caetano, algumas perdendo mesmo a vida nessa luta.
Lamentavelmente, a Democracia tem permitido muitos abusos e está manchada pela corrupção.
Mas, apesar dos pesares, é infinitamente melhor do que a Ditadura!
ABRIL, SEMPRE!!
Coragem hoje, Abraços amanhã…
Conceição Matos nasceu em 1936
Muda-se para o Barreiro com apenas 3 anos de idade, para uma “barraca de madeira” no Bairro das Palmeiras, que partilhava com os pais e irmãos.
Inicia a sua intervenção política pela mão de seu irmão no MUD-Juvenil mas é na década de 50, após conhecer Domingos Abrantes com quem viria a casar, que ingressa no PCP.
É detida no dia 21 de Abril de 1965, sendo vítima da mais cruel e humilhante tortura jamais praticada pela PIDE.
Disseram-lhe então: "Daqui só sai para a morgue ou para o Júlio de Matos. Não sai daqui ninguém sem confessar tudo".
Ao terceiro dia do interrogatório, ininterrupto, Conceição começou a sofrer alucinações – “Via bichos nas paredes e estas moviam-se”.
Não controlava as gargalhadas quando algum dos agentes lhe dirigia a palavra.
Três dias depois, bastante debilitada, Conceição estava de volta ao edifício da António Maria Cardoso, para desta vez sofrer um dos momentos mais atrozes e humilhantes da sua detenção encabeçado pela Agente Madalena.
“Então vamos começar com o espectáculo." Abriu a porta, deixou entrar uma dezena de homens, entre agentes e inspectores da PIDE, e começou a despi-la. "Fala ou não, sua puta?!", gritou-lhe. Conceição ficou nua.
Tentaram mantê-la de pé, vestiram-na e mandaram entrar um "pide" que trazia consigo uma máquina fotográfica. "Julguei que ia morrer ali...".
Diz Conceição:"Quem vê aquele processo sabe que eu nunca falei à polícia.”
Foi em Caxias que primeiro lhe elogiaram a coragem.
“Eu disse o meu nome e quiseram saber se eu já tinha sido interrogada”. Respondi que sim e perguntaram "falaste?", "não" e eles responderam “coragem hoje, abraços amanhã".
Quando aconteceu a Revolução dos Cravos Conceição Matos estava em Paris, e Domingos Abrantes em Bruxelas.
Regressaram de imediato a Portugal.
”Só é livre, o homem que liberta.”
Mário Augusto Sottomayor Leal Cardia nasceu em Matosinhos a 19 de Maio de 1941.
Cedo se envolveu na política, o que lhe valeu a primeira expulsão de um liceu no Porto.
Em 1959, depois de participar na campanha eleitoral do general Humberto Delgado, ingressa na Universidade de Lisboa, onde se forma em Filosofia pela Faculdade de Letras.
Era um conhecido contestatário do regime de Salazar entre o meio estudantil, chegando mesmo a ser expulso de todas as universidades de Lisboa devido à sua insistente oposição à ditadura.
Aderiu entretanto ao PCP e é candidato a deputado, primeiro pelo Movimento de Oposição Democrática, em 1965, e depois pela CDE (Comissão Democrática Eleitoral) em 1969.
Ainda nesse período, trabalhou na revista “Seara Nova”, onde é chefe de redacção entre 1968 e 1972.
Registado como “politicamente suspeito”, todas as suas tentativas de editar livros acabaram em apreensões sendo os seus textos publicados na Seara Nova passados à lupa pela censura.
O seu rigor várias vezes o conduziu a atitudes de puro estoicismo que, num regime repressivo como foi o do Estado Novo, resultaram em cenas de pancadaria às mãos da PIDE.
Foi preso por diversas vezes.
Numa das suas prisões, foi barbaramente torturado, sofrendo uma ruptura da retina que o cega durante dois meses e da qual nunca viria a recuperar.
Em 1971 abandona o PCP, saindo em divergência com Álvaro Cunhal, e tornando-se militante do Partido Socialista, desde a sua fundação, tendo colaborado na redacção do programa eleitoral do PS.
Foi um antifascista e um lutador pela democracia, um reconhecido exemplo de coragem moral e física.
Ficou célebre a sua frase publicada no jornal estudantil Quadrante: “Só é livre, o homem que liberta.”
Viria em
Faleceu no dia 17 de Novembro de 2006, com 65 anos, vítima de doença prolongada.
Fontes: Jornal “O Público”,Jornal “Diário de Notícias”,Centro de Documentação 25 de Abril – Universidade de Coimbra.
"...Foi então que Abril abriu
as portas da claridade
e a nossa gente invadiu
a sua própria cidade.
Disse a primeira palavra
na madrugada serena
um poeta que cantava
o povo é quem mais ordena..."
José Carlos Ary dos Santos
"Poupem-se a trabalhos estúpidos e dessa forma poupar-me-ão a trabalhos inúteis."
Quem gritou mais alto quando foi inviabilizada esta opção Barreiro/Chelas a favor da construção da actual Ponte Vasco da Gama?
Hoje em dia, parece que tudo mudou e em vez de se conseguir o milagre de “parar o vento com as mãos” e ver o Barreiro crescer ao doce sabor da planície alentejana, assistimos a um fervilhar de ideias, à urgência do desenvolvimento que se negou a esta cidade durante quase 30 anos.
Acredita-se na independência do estudo do LNEC e afirma-se que este instituto dificilmente poderia ter outra opção que não o eixo Barreiro/Chelas.
Defende-se com fervor uma ponte rodo ferroviária com o argumento que ajudará a consolidar uma cidade região, plena de desenvolvimento.
Imagine-se que até se querem projectos para recuperar o passado industrial do Barreiro, com a utilização dos terrenos da antiga CUF e sonha-se com um novo complexo industrial com forte recurso às novas tecnologias.
(Será que é agora que se tira da gaveta mais um projecto com a marca socialista como a Cidade do Cinema?)
Congratulo-me com o facto do futuro desta cidade ter dependido de uma decisão do Governo do Partido Socialista.
Ganhamos todos.
Todos, menos os que apanham a boleia e nada mais fizeram pelo Barreiro senão durante anos a fio, miraculosamente, “parar o vento com as mãos”.